Poema 20
E todos os problemas se resolvem.
Oh! quão pequena parece a diferencia
Entre o sim e o não!
Quão exíguo o critério
Entre o bem e o mal!
Como é tolo não respeitar
O que merece ser respeitado de todos!
Ó solidão que me envolve todo!
Todo o mundo vive em prazeres
Como se vida fosse uma festa sem fim,
Como se todos sorrissem em perene primavera!
Somente eu não sei o que farei...
Sou como uma criança que desconhece o sorriso.
Sou como um foragido
Sem pátria nem lar...
Todos vivem na abundância,
Somente eu não tenho nada....
Sou um ingênuo, um tolo...
É mesmo para desesperar...
Alegres e sorridentes andam os outros!
Deprimido e acabrunhando ando eu...
Circunspectos são eles, cheios de iniciativa!
Em mim. tudo jaz morto.
Inquieto, como as ondas do mar,
Assim ando eu pelo mundo...
A vida me lança de cá para lá,
Como se eu fosse uma folha seca...
A vida dos outros tem um sentido,
Eu não tenho uma razão de ser...
Somente a minha vida parece vazia e inútil;
Somente eu sou diferente de todos os outros -
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E no entanto - sossega meu coração!
Tu vives no seio da mãe do Universo.
(Lao-Tse- tradução do chinês por Humberto Rohden)
Explicação Filosófica:
À primeira visa parece estranho esse pessimismo do autor, esse lúgubre desânimo da vida, que lembra os lamentos de Jó. Mas não convém esquecer que todo o homem que deixou a sociedade dos profanos tem, de início, a sensação de uma solidão imensa, de um saara sem oásis; sente-se exilado sem pátria sem lar. O homem espiritual se sente desambientado aqui na terra; ninguém o compreende; todos o consideram como um estranho, não pertence ao nosso mundo. O próprio Jesus passou por estes transes:"As raposas têm suas cavernas, as aves têm seus ninhos - o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça". E a seus discípulos diz ele:"Por causa de mim e do Evangelho sereis odiados de todos..."."Bem-aventurados os que choram..."
Ao descer de Tambor, ele exclama: "Ó geração perversa e sem fé! Ate quando estarei convosco?
Ate quando vos suportarei?"...
Mas essa aparente solidão e abandono do homem espiritual é a "Comunhão dos Santos", a mais bela do Universo, como Lao-Tsé lembra nas últimas linhas. É o total abandono de Jó - que estava na companhia de Deus, no coração do Universo. Abandonado se sente o ego - bem amparado está sempre o Eu. "Meu Deus, meu Deus, por que abandonaste?...Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito."
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