E Al-Mustafa respondeu:
"Onde procurareis a beleza e como a podereis encontrar a menos que ela mesma seja vosso caminho e vosso guia?
E como podereis falar a menos que ela mesma teça vossas palavras?
Os aflitos e os feridos dizem: A beleza é amável e suave.
Como uma jovem mãe, meio encabulada na sua glória, ela caminha entre nós.
Os apaixonados dizem: Não, a beleza é uma força poderosa e temível.
Como a tempestade, ela sacode a terra abaixo e o céu acima.
Os cansados e os gastos dizem: A beleza é um murmúrio suave. Fala em nosso espírito.
Sua voz cede aos nossos silêncios como uma luz tênue que treme por medo da sombra.
Mas os turbulentos dizem: Nós a ouvimos gritar entre as montanhas,
E com seus gritos chegavam o tropel de cavalos, o bater de asas e o rugir do leões.
À noite, os guardas da cidade dizem: A beleza despontará do Oriente, com a aurora.
E, ao meio-dia, os trabalhadores e os transeuntes dizem: Nós a temos visto inclinada sobre a terra, das janelas do poente.
No inverno, os prisoneiros da neve dizem: Ela virá com a primavera, pulando sobre as colinas.
E no calor do verão, os ceifeiros dizem: Nós a vimos dançar com as folhas do outono, e havia neve no seu cabelo.
Todas essas coisas, vós dissestes da beleza.
Porém, na verdade, não falastes dela, mas de desejos insatisfeito.
E a beleza não é um desejo, mas um êxtase.
Não é uma boca sequiosa, nem uma mão vazia que se estende,
Mas, antes, um coração inflamado e uma alma encantada.
Ela não é a imagem que desejais ver, nem a canção que desejais ouvir,
Mas, antes, a imagem que contemplais com os olhos velados, e a canção que ouvis com os ouvidos tapados.
Não é a seiva por baixo da cortiça enrugada, nem uma asa atada a uma garra,
Mas, sim, um pomar sempre em flor, e uma multidão de anjos em voo.
Povo de Orphalese, a beleza é a vida quando a vida desvela seu rosto sagrado.
Mas vós sois a vida, e vós sois o véu.
A beleza é a eternidade olhando para si própria num espelho.
Mas vós sois a eternidade, e vós sois o espelho."
Nenhum comentário:
Postar um comentário