terça-feira, 16 de agosto de 2011

loser kids




Não coleciona porcelana, coleciona suas quedas. Poderiam ser apenas cacos, mas, da mesma forma que ele pede que não seja gentil se não for paixão, embrulha os cacos no jornal e joga fora. Fica só a queda. Guarda muitas coisas assim, quando elas vão embora. Parece que aprendeu com a mãe. Delicadeza, que merda - atrai, atrai, atrai e no fundo e no raso, ele confunde as coisas. No seu começo e no seu fim, delicado, dizer das ostras não querer nem as pérolas - acha que ser só é você não ser mais ninguém. Por isso, às vezes, ele é um monte de gente. Gente que ele carrega desde os oito anos.
O pastor sadio guarda suas ovelhas. O pastor neurótico abre uma igreja. Por mim não existiria espaço entre os corpos celestes ou entre os mundos. Não existiria solidão. Nem telefone. No fim da noite todo mundo poderia se apaixonar. Por mim. Se você não me ama, me dá um medo. Coleciono medos também. De você. Por você, tremeluzo. Se for paixão, diga. Pergunta se eu tenho um chiclete. Fecha apenas um olho. Odeio o verbo desmanchar. Lindo. Quando você me olha. É assim que eu me acho.
E é assim que eu me vejo. Um garoto vestido de azul no espelho. Seu comportamento infantil quebrando coisas na sala. Ele acha que o telefone não toca porque ele não é sexy. Ele acha que se fosse sexy se machucaria menos. Daí retêm todo o azul que consegue e se tranca no videocassete, não sufoca, não irrita, fez muita besteira aos 15 anos, comédia-romântica não te preenche mais. Vazios cada vez mais espaços. Cansa dizer tudo bem, e esperar a voz de alguém que nem sabe que eu sou de touro. Iria ao cinema se fosse mais sexy. Não estaria vestido de azul se fosse mais sexy. O que você tem? No seu íntimo não é o que poderia se chamar de nada, nem cabe ali, mas ele diz que não tem nada. O nada não é azul. Mas ele mente. É assim que ele se perde.
Sonhando. E eu jamais precisaria pedir desculpas chorando. Porque chorar seria humano. E comemoraria dois aniversários no mesmo ano. E sempre haveria alguém em casa para me receber. E nós poderíamos conversar até amanhecer. Melhor, poderíamos nos encontrar numa praça e depois comer croissants no Fran's. E Leo Jaime faria sucesso novamente com preciso dizer que te amo.
E eu nunca mais passaria um sábado inteiro esperando você ligar. Sábados são importantes. E não seria etiquetado como alguma coisa por não pensar como o resto das pessoas. Liberdade também é importante. Se eu fosse uma televisão, meu problema seria na antena. Talvez, nitidez. Mas é assim que eu me entendo. Costurando todas essas satisfações em uma só, como se fosse – a antena – um sonho. Que não se realiza por inteiro, porque eu sempre acabo me apaixonando.
Por territórios proibidos. Um pacote de sete dias e sete noites para o Fim da Solidão. Suíte com banheira e ar condicionado. Custa. Pagar o preço poderia variar conforme a posição na fila. Se eu te amo mais é comigo que você fica. Só preciso saber em que capítulo eu me perco. E os motivos pra te perder. Eu pagaria pra não ficar te esperando, ou viveria inquieto, sofrendo dos amores – mas – se eu te amo mais é comigo que você fica, para que eu possa ser estranhamente feliz para o resto da vida.

(Victor Carbone)

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texto editado por mim do original

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